Era uma coruja esquisita, que ficava olhando o mundo com os olhos esbugalhados de quem levou um susto. Grrrrrrrrrrrr! E a cabeça girava.
Lá ia menina, como todo dia. Vagava e olhava a coruja, e a coruja ficava tentando olhar seus pensamentos, mas sempre era noite, não dava para vê-los. A menina desconfiava que a coruja sabia de tudo, entretanto. Ai, coruja...
Todos as noites menina e coruja se encontravam. A coruja no toco, a menina na grama. Uma olhava, a outra vagava.
Um dia, a menina parou e ficou a olhar a coruja. Coruja bonita. Nem pisca. Parece um enfeite.
A menina estava cansada de vagar. Tantos descaminhos. Queria ser a coruja. Ficar plantada em cima de um toco olhando o mundo. Sereno. Silêncio. Sozinha. Grrrrrrrrrrrrrrr! Seria uma menina-coruja. Ou uma coruja-menina. E não precisaria de pensar em mais nada. Troca comigo, coruja... Mas a coruja não entendia os pensamentos da menina. Nem ouvia. Também, não lhe interessava ser menina. Que linda, nem pisca. Coruja, você parece um enfeite.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
domingo, 18 de novembro de 2007
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
CAIPIRÍSSIMA
Canudinho. E suga. E suga. E suga.
Gostoso.
Geladinho.
Tudinho.
Canudinho.
E suga. E suga. E suga.
Tão bom. Bom. Bom.
Gostoso.
Geladinho.
Tudinho.
Canudinho.
E suga. E suga. E suga.
Tão bom. Bom. Bom.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
RESTINHOS
Depois da constatação que superar leva tempo...
O que há nesses cantinhos? Sentimentozinhos. Esgueiram-se por detrás da porta e vivem de assombrar, esses restinhos.
O que há nesses cantinhos? Sentimentozinhos. Esgueiram-se por detrás da porta e vivem de assombrar, esses restinhos.
O VARAL
Foi num dia de espera...
Pendurou-me num varal.
O vento dá em mim, o sol dá em mim.
Estou acima do nível da terra, longe das mãos sujas das crianças e dos dentes dos cachorros. E balanço. Balanço como lenços de adeus.
Pendurou-me num varal.
O vento dá em mim, o sol dá em mim.
Estou acima do nível da terra, longe das mãos sujas das crianças e dos dentes dos cachorros. E balanço. Balanço como lenços de adeus.
O CONTO DA PENA
É meu primeiro continho.
De um salto, certo dia, alcançou o papel. Relação platônica finita. E deslizou sobre ele. E deu voltas. E sentiu a textura. E apertou-se contra. E o lambeu, desenhando longas e rebuscadas letras, ilegíveis, a esmo, como se fosse a primeira vez. Na verdade, não era, mas cada papel em branco fazia a pena perder o tino.
A pena queria escrever. Não sabia o que exatamente, mas queria. Dentro do tinteiro, sozinha, observa. Não estava sozinha, propriamente, pois ali era um escritório – escritório, lugar de escrever, es-cri-tó-rio, pensava. A sua frente, um pedaço de papel. Não podia ver papéis. Era uma obsessão.
De um salto, certo dia, alcançou o papel. Relação platônica finita. E deslizou sobre ele. E deu voltas. E sentiu a textura. E apertou-se contra. E o lambeu, desenhando longas e rebuscadas letras, ilegíveis, a esmo, como se fosse a primeira vez. Na verdade, não era, mas cada papel em branco fazia a pena perder o tino.
De repente, parou. Pulou no tinteiro, chupou longos goles, e voltou ao papel, que já não era branco, nem virgem. E isso aumentou-lhe a sede de escrita. E ali começou uma história, porque o pedaço de papel era só um sobre centenas, tal qual um livro, todo em branco – aliás, de branco, nada havia nele, porque, se a pena tivesse observado um pouco mais, pouco além da própria vontade, teria visto que o pedaço de papel era um misto de cores, ardia de desejo de ser tocado, rabiscado, amassado, xingado, louvado, folheado, usado. Porque papel em branco é como gente sem história: não é nada. E de há muito o papel olhava a pena...
Certa feita, depois de um outono, um inverno, uma primavera, um verão e outro outono, pena papelomaníaca satisfeita, papel exausto, mas repleto – só faltava acender um cigarro, mas era arriscado –, deram o processo por encerrado. Nunca se soube que história fora ali escrita, até porque, costurada na surdina, só interessava aos dois: ao papel e à autora do papel, a pena. Só se sabe que a pena, que até então não sabia o que escrever, e que, ao tocar o papel, acendera-se, desastrada, a princípio, considerou, ao final, aquela a melhor da obras. Saciou-se. Curou-se. Porque esvaziou-se. Agora, o papel... Este tomou gosto. Passou a querer outras penas. E fica no es-cri-tó-rio a observar cada novo tinteiro que chega para lançar sobre elas olhares lacivos-convidativos. Sugou tudo o que pôde da pena vazia. Encheu-se. Quer mais, o papel penomaníaco.
Tomba mas não breca
Então, recomeçarei, tentarei de novo, partirei do zero nessa saga de escrever. Namorinhos com filosofia e literatura. Vamos lá!
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