quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A CORUJA E A MENINA

Era uma coruja esquisita, que ficava olhando o mundo com os olhos esbugalhados de quem levou um susto. Grrrrrrrrrrrr! E a cabeça girava.
Lá ia menina, como todo dia. Vagava e olhava a coruja, e a coruja ficava tentando olhar seus pensamentos, mas sempre era noite, não dava para vê-los. A menina desconfiava que a coruja sabia de tudo, entretanto. Ai, coruja...
Todos as noites menina e coruja se encontravam. A coruja no toco, a menina na grama. Uma olhava, a outra vagava.
Um dia, a menina parou e ficou a olhar a coruja. Coruja bonita. Nem pisca. Parece um enfeite.
A menina estava cansada de vagar. Tantos descaminhos. Queria ser a coruja. Ficar plantada em cima de um toco olhando o mundo. Sereno. Silêncio. Sozinha. Grrrrrrrrrrrrrrr! Seria uma menina-coruja. Ou uma coruja-menina. E não precisaria de pensar em mais nada. Troca comigo, coruja... Mas a coruja não entendia os pensamentos da menina. Nem ouvia. Também, não lhe interessava ser menina. Que linda, nem pisca. Coruja, você parece um enfeite.

domingo, 18 de novembro de 2007

ESPERA

Dias longos horas tristes quase mortas noite infame se não vem ai de mim que me lamento quase morta quase triste quase nada se não vem.

PRAGA

Ai, que ódio de ti,
que fizeste de mim um tostão furado
nega sem valor
sonhos postiços
dentes quebrados.
Miserável.
Que ódio de ti.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

CAIPIRÍSSIMA

Canudinho. E suga. E suga. E suga.
Gostoso.
Geladinho.
Tudinho.
Canudinho.
E suga. E suga. E suga.
Tão bom. Bom. Bom.

POEMINHA I

Humm... oh!
Equivocacione.
Mais.
Excusa.
Mais.
New.
Mais.
E agora?
Mais.
Olvidarte?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

RESTINHOS

Depois da constatação que superar leva tempo...


O que há nesses cantinhos? Sentimentozinhos. Esgueiram-se por detrás da porta e vivem de assombrar, esses restinhos.

O VARAL

Foi num dia de espera...


Pendurou-me num varal.
O vento dá em mim, o sol dá em mim.
Estou acima do nível da terra, longe das mãos sujas das crianças e dos dentes dos cachorros. E balanço. Balanço como lenços de adeus.

O CONTO DA PENA

É meu primeiro continho.


A pena queria escrever. Não sabia o que exatamente, mas queria. Dentro do tinteiro, sozinha, observa. Não estava sozinha, propriamente, pois ali era um escritório – escritório, lugar de escrever, es-cri-tó-rio, pensava. A sua frente, um pedaço de papel. Não podia ver papéis. Era uma obsessão.

De um salto, certo dia, alcançou o papel. Relação platônica finita. E deslizou sobre ele. E deu voltas. E sentiu a textura. E apertou-se contra. E o lambeu, desenhando longas e rebuscadas letras, ilegíveis, a esmo, como se fosse a primeira vez. Na verdade, não era, mas cada papel em branco fazia a pena perder o tino.
De repente, parou. Pulou no tinteiro, chupou longos goles, e voltou ao papel, que já não era branco, nem virgem. E isso aumentou-lhe a sede de escrita. E ali começou uma história, porque o pedaço de papel era só um sobre centenas, tal qual um livro, todo em branco – aliás, de branco, nada havia nele, porque, se a pena tivesse observado um pouco mais, pouco além da própria vontade, teria visto que o pedaço de papel era um misto de cores, ardia de desejo de ser tocado, rabiscado, amassado, xingado, louvado, folheado, usado. Porque papel em branco é como gente sem história: não é nada. E de há muito o papel olhava a pena...
Certa feita, depois de um outono, um inverno, uma primavera, um verão e outro outono, pena papelomaníaca satisfeita, papel exausto, mas repleto – só faltava acender um cigarro, mas era arriscado –, deram o processo por encerrado. Nunca se soube que história fora ali escrita, até porque, costurada na surdina, só interessava aos dois: ao papel e à autora do papel, a pena. Só se sabe que a pena, que até então não sabia o que escrever, e que, ao tocar o papel, acendera-se, desastrada, a princípio, considerou, ao final, aquela a melhor da obras. Saciou-se. Curou-se. Porque esvaziou-se. Agora, o papel... Este tomou gosto. Passou a querer outras penas. E fica no es-cri-tó-rio a observar cada novo tinteiro que chega para lançar sobre elas olhares lacivos-convidativos. Sugou tudo o que pôde da pena vazia. Encheu-se. Quer mais, o papel penomaníaco.

Tomba mas não breca

Então, recomeçarei, tentarei de novo, partirei do zero nessa saga de escrever. Namorinhos com filosofia e literatura. Vamos lá!