quarta-feira, 23 de abril de 2008

Da solidão - Vinícius de Moraes


O poetinha ensina algo para nos tirar da visão de nós mesmos:

"...a maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, e que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes da emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto da sua fria e desolada torre." (in Para viver um grande amor - crônicas e poemas)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Retratação




Mas vinte vinhos não são capazes, hoje, de deixar-me melancólia. Ouvi no carro Maria Rita: "Me abraça e me aperta, me prende em suas pernas." Bom mesmo é estar nas mãos de outrem para partilhar com ele nossa humanidade.

Depois de vinte vinhos

Tenho aprendido que sou e não sou dona de mim. Aprendi a escolher, mas só diante das opções que me são dadas. (Ai, Marx, saia de perto de mim com os ecos do materialismo histórico. XÔÔÔ) As demais circunstâncias, tenho que construí-las, ou esperar que surjam. Nem tudo depende de nós. Estamos também nas mãos dos outros, à mercê de seus sentimentos, desejos e boa (ou má) vontade. A vida é uma alquimia. Sem receita.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Devir

Tudo é devir, dizem os pré-socráticos. Mas as tramas desse processo, que nunca se completa, nos aprisionam. Não somos, por isso, capazes de viver o que é, o agora, o que acontece. Somos angustiados. Nossa memória é curta. Nossas sensações, voláteis. Superficiais. Nem conseguem nos afetar senão de pronto. Queremos o que ainda não é a qualquer custo. Vivemos no futuro. Em função dele. Eu sou devir, mas quero o hoje. Quero tudo o que o hoje me oferece. Intensamente. Ninguém garante que o devir trará o Bem, mas eu confio que sim. Esperemos que sim, façamos o que nos cabe, mas não esqueçamos de mergulhar nessas horas que se esvazem. Quero cada minuto.