sexta-feira, 9 de maio de 2008

Amor essencial e amor contingente


Simone de Beauvoir e Jean Paul Sarte tinham um pacto. Viveriam um amor essencial, mas ambos estariam liberados para viver amores contingentes. Amaram-se um ao outro - e amaram muitos outros, também. Até que a morte os separou, como tinha que ser, para ser uma história de amor completinha. Parece-me que não deu tão certo assim, o tempo todo, entretanto. Ela sofreu de ciúmes, que ele tentava aplacar com zelo e muitos cuidados. Ele acompanhou as aventuras dela com um escritor americano, que a chamava de "minha esposa". Juntos, engajaram-se em lutas políticas, embora ela não fosse filiada a partido nenhum. No fim de tudo, ela descreveu em livro a decadência da saúde do filósofo. Uns dizem que por vingança, outros por lealdade ao pacto de sinceridade assinado na juventude entre os dois.
Penso que amores muito intelectualizados, muito abertos, tendem a não dar muito certo. Amor é instinto, é cheiro, é carne, é vontade, é pungente, essencial e contingente ao mesmo tempo, nunca inteligente, nunca pensante. Cupido era um arteiro (e arqueiro, obviamente). Na cama, não dá pra recitar Heiddeger. No máximo, lembrar de suas máximas sobre ser-no-mundo. Mas, entre gemidos e ais, sinceramente, acho que não dá, não... Creio que sejam mais satisfatórios amores sedentos de mãos espalmadas e beijos-de-revirar-o-ventre do que amores intelectualizados.
E sobre amores abertos a outras experiências... Não sei. Existe, claro, o medo da prisão. Mas, dependendo, às vezes, ela nem é tão ruim assim. Quando é opressora, de verdade, manda-se o outro ir passear; nunca se promete, ao contrário, fidelidade ao amor "essencial". Dividir o amor com outra pessoa não me parece ser uma situação muito confortável. Nem justa. Nem legítima. Tudo muito moderno, tudo muito bonito, tudo muito inteligente e desprendido, mas o que funciona é a lei básica. Estou muito errada?

4 comentários:

ou Lua disse...

Monogamia não é natural, a meu ver. E relacionamentos abertos são válidos se acontecem sem forçar a barra.. É bem verdade essa inconstância de emoções,e justo por isso.

Esqueceu da existência desse blog?

Maracatu disse...

Monogamia não é natural, a meu ver. E relacionamentos abertos são válidos se acontecem sem forçar a barra.. É bem verdade essa inconstância de emoções,e justo por isso.²

Lpsouza disse...

"Penso que amores muito intelectualizados, muito abertos, tendem a não dar muito certo"

Pronto... Não é preciso assinar: Uma mulher em busca de segurança e finais de comédias românticas escreveu estas linhas.

Amores então devem ser desintelectualizados (burros), restritos à monogamia irrefletida, construída para atender ao padrão de família burguesa cristã? Esta ideologia pobre é encoberta sob a beleza burra da poesia de palavras como "instinto, cheiro, pele, fogo, entrega, blá, blá..."

Oq importa é a aceitação das ilimitações da condição humana, as experiências são oq nos moldam e desvelam nosso olhar, restringi-las é cometer suicídio espiritual... Ñ defendo, ñ apoio. Cada qual deve buscar superar a si mesmo buscando a vida e as experiências q julgar necessárias. Ter um parceiro nesta jornada é uma dádiva... Nietzsche é a resposta p/ o ainda reprimido e culpado homem do século XXI.

ELISABETH disse...

Ja houviram falar no mundo liberal? casais se libertam apenas naquele momento,fora dali são pessoas que se amam e se respeitam.