sexta-feira, 6 de junho de 2008

Inverno


Itaperuna é linda no inverno. Às vezes, na maioria das vezes, o inverno não alcança a cidade, mas, quando ele chega, meus dias viram festa e eu agradeço a Deus por acordar e ver a cidade fria e amarela. Talvez ninguém tenha reparado, mas Itaperuna fica amarela no inverno e tudo ganha mais cor porque o sol fica retocando a cidade à distância, como quem não quer nada, e, na verdade, sabe muito bem que há quem vibre diante desse espetáculo de cor.


O trabalho displicente do sol consegue fazer um milagre. A beira-rio, pobrezinha, tão duramente castigada, mas, mesmo assim, tão encantadora a certos olhos, atinge sua magnitude no inverno. Agora, há poucas semanas, um bando de garças deu para ocupar uma árvore tombada sobre o Muriaé, perto da Fundação, e ficar ali, também como quem não quer nada. Na verdade, talvez realmente elas nem tenham se dado conta, mas que grandeza de paisagem constroem na margem do triste rio... O rio fica bonito e nem as casas que avançam sobre suas margens e nem um restinho de lixo que insiste em estragar o prazer dos amantes do quadro conseguem enfeiar a beira-rio quando ela é tocada pelo sol no inverno.


Outra coisa que também gosto de fazer no inverno é observar as pessoas de Itaperuna. Elas procuram se agasalhar e o engraçado é que nem sempre a estação é rigorosa. Minha tese é de que elas querem ficar belas e acompanhar a beleza da cidade quando faz frio – e o trabalho do sol às vezes dura tão pouco.... De manhãzinha, as pessoas correm para o trabalho e eu fico pensando se elas não reparam no espetáculo amarelo.


Há invernos nos quais há noites em que o ar fica gelado, mas eu fico querendo ir lá fora, belamente agasalhada – como todas as pessoas de Itaperuna no inverno -, e andar pela praça da avenida como se fosse invisível e passar pelas pessoas, olhar para elas e ficar imaginando que são pessoas muito normais e com pensamentos muito engraçados e sem muita coragem de mostrar seus diários – como eu.


Itaperuna é linda no inverno. Linda, linda, linda. Pena que me falta tempo para apreciar. Mas um dia, num inverno desses em que Deus fizer mais uma das suas, eu vou sair à noite, no ar gelado e olhar as pessoas. No outro dia, pela manhã, que certamente estará banhada por aquela luz amarela que só achei no inverno de Itaperuna, eu vou tomar coragem e estender uma toalha na beira-rio e ficar apreciando o Muriaé espreguiçar. Igual a algumas pessoas que já encontrei paradas, mesmo fazendo frio, com peso jogado numa das pernas, mãos entrelaçadas para trás, a olhar encantadas para o coitadinho do rio.

9 comentários:

Anônimo disse...

O inverno Itaperunense é mesmo peculiar. Bem, minha capacidade de observação parece não se extender ao campo físico das coisas, então, nunca vi o amarelo (rs), mas já vi um pouco das pessoas. De fato, acabo tirando por mim mesmo, pois nesse ponto, sou um itaperunense perfeito. Basta um ventinho para aparecer as camisas de manga longa. Mas, fale a verdade? Quem não gosta de ficar elegante? Eu mesmo não perco uma oportunidade de tirar minhas roupas de inverno do armário! rs...

Jacqueline Deolindo disse...

Marcos, até eu mesma. As botas ficam roxas de vontade de sair do guarda-roupa. E meu cachecóis são liiiindos... rs
Mas, sobre o amarelo, a dica é, como te disse, ver sua projeção na avenida por volta das sete da manhã. E outra dica, inédita: para ver as pessoas e ficar imaginando o que pensam, a melhor coisa seria andar pelo calçadão depois da meia noite, num dia frio. É incrível.

Frederico C. Costa disse...

Preciso assistir Terra em Transe, do Glauber Rocha.

Igor José disse...

Para quem veio do norte como eu, mais precisamente de Belém do Pará, o frio de Itaperuna realmente encanta, não porque lá no norte quase não faz frio, mas devido a beleza dessa cidade cuja grandeza, hoje em dia está mais nas coisas pequenas, leves e menos notadas, do que no crescimento superficial que se observa, acontecendo de forma desorganizada, transformando a vida do cidadão itaperunense em um verdadeiro caos.
Contudo, a beleza rústica dessa cidade interiorana ainda consegue fazer com os mais sensíveis percebam um espetáculo invisível aos olhos agitados dáqueles que esqueceram ou nunca conheceram o caminho da pedra preta.
Parabéns pelo artigo!

Anônimo disse...

Falar de inverno nem sempre implica em beleza da estação. Muitas vezes, olha-se apenas pelo lado da instabilidade que a chuva causa numa cidade como Itaperuna. No entanto, poucos conseguem olhar a cidade com os olhos poéticos, que se curvam ante o magnetismo bucólico do provinciano.
Vendo a tua narrativa, começo a olhar esta cidade com romantismo; talvez até me apaixone, quem sabe...

Parabéns pelo artigo.

Guilherme Carvalhal disse...

Itaperuna não tem lá muito bem um inverno. Mas a cidade fica bonita nessa época, dá mais ânimo pra sair de casa.

www.cadeapedrapreta.com.br

Igor José disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Muito interessante o artigo, realmente nunca tinha reparado isso, mas vou estar mais atento (rs). Não conhecia seu blog, achei muito interessante, eu o vi nos links relacionados do "cadeapedrapreta", gostei muito, vou frequentar sempre.
amo nossa cidade e admiro pessoas como você que valorizam o que ela têm de melhor.

Visitem meu blog:
http://itaperuna-noticias.blogspot.com