terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ensaios filosóficos II

Arrisco dizer que o homem descobre a verdade no caminho da compreensão de seu lugar no mundo e no lugar ocupado por todas as outras “coisas”, inclusive pelo théos.

Carneiro Leão - da verdade

"...tudo o que o homem conhece, sente, pensa, sabe ou faz, só se torna realmente significativo, só adquire sentido essencial, se houver possibilidade de conversa e diálogo, na medida em que dele se puder falar a partir de sua linguagem. Não há verdade no singular, fora de toda e qualquer envergadura de discurso. Toda verdade é plural... Enquanto vivermos, pensarmos e agirmos na Terra, só faz sentido o que pudermos falar uns aos outros, o que puder receber um significado na e da linguagem..."

LEÃO, Emannuel Carneiro. Aprendendo a pensar - volume I. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 104

Ensaios filosóficos I

É a im-probabilidade que dá sentido à busca. A filosofia não é feita de respostas acabadas, justamente o contrário, e justamente por muito questionar, ela nos abre um espaço convidativo para este exercício de reflexão. Mas o que, aqui, é im-provável? Ora, que a Verdade e o Homem são os que se apresentam ou os que nos dizem ser. Os enunciados são im-prováveis por de fato não se apresentarem com os devidos selos de garantia. Ainda assim, mereceriam ser testados.

Heidegger - das angústias

"Angustiar-se é descobrir original e diretamente o mundo como mundo. [...] A angústia faz explodir no cerne do Dasein o ser na direção do poder-ser mais autêntico, ou seja, o ser-livre para a liberdade de escolher e de se apoderar de si mesmo".

ADLER, Laure. Nos passos de Hannah Arendt. São Paulo: Record, 2007, p. 67

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Maquiagem

Então, peguei o estojo e, depois de preparar a pele do rosto da mamãe, fui pintar seus olhos. Briguei várias vezes com ela:
- Mãe, não aperta os olhos, está atrapalhando. Assim o pincel não corre direito.
Depois de me falar três vezes que não era de propósito, ela explicou:
- Eu não estou apertando. É que meus olhos já estão flácidos.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ano Novo

Guaratinguetá, 31 de dezembro de 2007

Elio,

estou fechando 2008 com raiva de mim, por não saber fazer as coisas direito, não ter finura no trato, nem paciência, e também por não saber dar de ombros aos outros e mandar que se danem. Talvez ainda faça isso até o fim da noite, porque ainda são dez horas e até meia noite ainda há coisas por acontecer. Escrevo a você, meu amigo, porque não tenho com quem falar nesse momento e não estou com vontade de dar carinho para o que o cachorro pare para me ouvir. Que e-mail patético, não? Afinal de contas, quase todo mundo festeja nesse momento. Quisera estar estudando, porque com livros eu me entendo. E eles são generosos.
Ainda há pouco eu estava agradecida, fui à igreja, rezei missa. Ofertei ao universo as lembranças de colheita. Foi um ano árduo. Nem sei se fui feliz durante o seu curso. Penso que não tive tempo para ficar alegre. Mas, sim, tive tempo para ficar "emmimesmada", às vezes triste, nervosa e agitada sempre.
Sabe, Elinho, pensei em promessas para 2008: manter minha conta bancária no azul, exercitar a aceitação de mim mesma e a aceitação do outro sem achar que sou responsável por ele ser quem ele seja, não me sentir na necessidade de controlar qualquer situação, seja ela qual for, ser mais piedosa, trabalhar menos, ir na Argentina, amar alguém, quem sabe ter um filho, mas penso que conseguir dar continuidade aos estudos e entrar para um emprego mais divertido já estariam de bom tamanho.
Então, Elio, só me restará brindar o ano que chega e torcer para eu saber lidar com ele, concorda? Gostaria que estivesse aqui para em aconselhar, porque você ilumina todas as coisas.
Já que estamos tão distantes, resta que leia este e-mail a tempo e faça pensamentos positivos e fluidos por mim. Que o seu ano novo seja uma nova canção.
Carinho e saudades,
Laura.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A CORUJA E A MENINA

Era uma coruja esquisita, que ficava olhando o mundo com os olhos esbugalhados de quem levou um susto. Grrrrrrrrrrrr! E a cabeça girava.
Lá ia menina, como todo dia. Vagava e olhava a coruja, e a coruja ficava tentando olhar seus pensamentos, mas sempre era noite, não dava para vê-los. A menina desconfiava que a coruja sabia de tudo, entretanto. Ai, coruja...
Todos as noites menina e coruja se encontravam. A coruja no toco, a menina na grama. Uma olhava, a outra vagava.
Um dia, a menina parou e ficou a olhar a coruja. Coruja bonita. Nem pisca. Parece um enfeite.
A menina estava cansada de vagar. Tantos descaminhos. Queria ser a coruja. Ficar plantada em cima de um toco olhando o mundo. Sereno. Silêncio. Sozinha. Grrrrrrrrrrrrrrr! Seria uma menina-coruja. Ou uma coruja-menina. E não precisaria de pensar em mais nada. Troca comigo, coruja... Mas a coruja não entendia os pensamentos da menina. Nem ouvia. Também, não lhe interessava ser menina. Que linda, nem pisca. Coruja, você parece um enfeite.